segunda-feira, 24 de março de 2008

Bebe...!

Pegas no copo, pedes que te passem o jarro, pegas no jarro, enches o copo, bebes até lhe ver o fundo.
Repetes este gesto uma e outra vez. Tantas vezes.

É porque te sabe bem? Não. Enjoa-te.
É porque te obrigam? Não. Tu mandas em ti.
É porque parece bem? Não. Vais fazer figura de parva.

"É porque depois vai ser divertido."

1º copo: Não acontece nada.
2º copo: Continuas igual.
5º copo: Começas a aumentar o nível da tua voz.
6º copo: Sentes-te com calor e começas a rir depois de falares.
10º copo: Estás farta de rir, já te dói a barriga.
15º copo: Já estás fora do restaurante.

Nesta altura já gritas pelo meio da rua, abraças-te a toda a gente e adoras todos os que estão como tu. Os outros não. São uns ranhosos, não bebem.

Chegas a um bar. Cravas uma cerveja.
Bebes e nem notas aquele sabor amargo que te arrepia quando estás sóbria.
Continuas a beber e a cantar músicas que só os bêbados cantam tão alto.
Estás divertida e queres continuar assim.
Recebes uma mensagem: "Está tudo bem?"
A mãe. Que querida.
Respondes: "Está tudo óptimo. O pessoal está a divertir-se bué!"
Pudera! Estão todos a rir!
Uns pelo álcool que também já levam nas veias, outros pelas figuras dos que beberam.
Todos pelas figuras dos que beberam.

Olhas para o relógio, a noite ainda é uma criança.
Por esta altura andas a tropeçar pelo Bairro Alto.
"Bora até Santos?"
E vão rindo e tropeçando pelas ruas de Lisboa até chegar a outro bar.
"Paga-me uma tequila!", dizes tu quando já tens que te apoiar no ombro da pessoa a quem berras ao ouvido. E tentas ficar com cara de santa e olhos de cachorro para que essa pessoa te pague mesmo um shot de tequila.
Não tens sorte.

Metes conversa com alguém que está a fumar para cravares um cigarro.
Os teus acabaram-se... há um mês atrás.
Pedes emprestado um isqueiro porque o teu está no fundo da mala, e ainda tens a consciência de que, no estado em que estás, não o vais encontrar.

Ouves "anda que eu pago!" vindo de alguém do teu grupo, não largas mais essa pessoa.
B-52, tequila, tequila.
Já nem vais dançar.
Sentas-te a um canto a ver acontecer tudo à tua volta.

Acordas.
Tens a boca seca, todo o teu corpo pede água.
Vais à cozinha... Não. Mudas a tua rota.
Destino: casa de banho.
Estás enjoada.
Dás de caras com o espelho. Que cara de zombie!
Tentas lembrar-te de como acabou a noite ontem.
Não recordas nem metade...

Quando voltas ao quarto procuras o teu telemóvel.
"Grande noite! Chegaste bem?"
É capaz... Nem isso sabes!

Sentes o teu estômago completamente vazio. Vais comer.
Estás melhor.
Andas às escuras. A claridade faz-te confusão.

Voltas à cama. O teu corpo pede descanso.
Passas uma hora com a televisão ligada, a passar pelas brasas.
Assustas-te com o vibrar do teu telemóvel.
Atendes.

"Hoje há grande festa em Santos! Bora todos para o Bairro e seguimos de lá!"

E, como numa espiral, no final desse dia tudo volta ao início.
Que tem isto de bom?
Não sabes.

Estás com os teus amigos, de certeza que se divertem.
Pelo menos metade do tempo tu sabes que sim.
Da outra metade nem tens ideia.

A noite da desgraça.
A noite da puta da bebedeira de que toda a gente te fala e promete.
A noite que vives a meio gás, gostas de uma parte dela.
Outra parte é-te indiferente.
A outra... Ignoras.

Mas é assim.
E vai continuar a ser.
Até que te prendam... Como tu (não) queres.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ai pá... arrepiei.me... Lembrei.me de mim bebeda!!!!

Ai credo!!!

LOL

beijo BOM

Anónimo = Boleto

Balbino disse...

És o que pensas, sem dúvida. Mas és ainda mais aquilo que deixas que te façam.