domingo, 12 de outubro de 2008

Quero viver.

Hoje vivi com esta imagem na cabeça:

Uma rua atarefada de trânsito, lojistas, pessoas na correria das suas vidas. Nessa rua, sozinha e discreta, uma porta de entrada para um prédio antigo.
Um daqueles prédios de uma qualquer baixa citadina.
Uma fachada pouco cuidada que relata a história da sua imponência dos tempos em que era recente, três pisos, mais o do telhado com as janelinhas a rebentar das diagonais.
A porta é de ferro antigo, a fechadura já não é a original, nota-se pelo brilho do canhão, que contrasta com a ferrugem dos moldes da porta.

Eu venho simples, nos meus All-Star que em "casa" já tinham ido pela janela. Quem me vir não me julga profissional do meu ramo, são capazes de me encarar como mais uma teen que nada faz pela vida.

Enganam-se.

Tenho toda a minha vida.

Abro a porta de ferro com esforço, venho a cantar e a sorrir. Felizes dos que fazem as duas coisas ao mesmo tempo. Subo as escadas de madeira antiga até ao último piso.
O das janelas anti-diagonais.
Sempre quis um quarto no telhado.
Abro a porta e entro em casa, o único sítio a que chamo 'Casa' de peito cheio, porque é neste espaço que sou eu, é este espaço que eu crio conforme dá vontade, é aqui que tu hoje estás à minha espera.

É um espaço amplo mas acanhado e modesto. Há livros pelo chão, discos e cd's por tudo o que é prateleira, a cama está por fazer, os tecidos que aspiram a portas esvoaçam à brisa das janelas abertas, há fotografias de todas as vidas ao acaso na parede, cheira a incenso, e vejo-te sentado no sofá. O meu corpo não consegue sorrir tanto quanto lhe manda o meu coração. Aproximo-me e dou-te um beijo, sento-me contigo e de olhos fechados sinto que os teus braços são o meu mundo.

Morde-me o coração.

Não se ouve nada que não os barulhos da rua. Falamos de coisas que nada importam, porque o que te quero dizer, digo tão somente por te olhar (nunca por dentro!).
Não somos nada, mas podia jurar que somos tudo.
É dessa liberdade que somos feitos.
Odeio quando partes, tu sabes, mas voltas e somos felizes.
Tens-me enquanto cá estás, e quando vais levas parte de mim contigo. Afinal é assim desde o início...

Numa casa que é minha por partes, numa terra que ninguém sabe onde é (para lá do paraíso), num mundo em que só nós respiramos.
Foi no sonho desta quase utopia que me perdi esta tarde.
Enrolada na minha cama, com um livro na mão e a vontade de ti ao meu lado.


Por mais coisas que eu diga, por mais imagens que crie, por mais entrelinhas que apanhes, o meu olhar nunca vai estar aqui.

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