domingo, 29 de junho de 2008

Noites de Arraiais!

Que belas noites, han?
Estas noites de verão de cheiro a vinho, sardinha assada, e manjericos.
Estas noites que me fazem rir como quase nenhumas.
Estes olhares cruzados propositadamente frustrados, que inspiram rimas indirectamente directas a ti.

Há quanto tempo não te via por aqui.
Até as teclas te estranham.
E muitos me estranham por falar outra vez assim.

Entre cantigas e gargalhadas, momentos descaradamente oportunos e senhas cor de rosa, esta foi uma das noites mas divertidas que tive nos últimos tempos.
E as mais divertidas têm tido sempre algo em comum. São noites sem preconceito, sem papas-na-língua, descaradas, reveladoras.
São as noites de verão que aprendi a conhecer.

São as noites que mostram quem importa.
São as noites que mal suportas.
São as noites que me deixam feliz.

Coitados daqueles que se identificam.
Coitados dos que agora querem o que já não têm.
Coitados dos que deram um tiro no pé.


Mas olha...

Vai dançar com quem te quis olhar.
Eu vou continuar a andar.

sábado, 21 de junho de 2008

Momentos Perfeitos

Estava uma noite amena naquela cidade de pedra que eu quase não conhecia.
Aquele quarto de segundo andar era pequeno, quando se entrava quase se tropeçava num pequenino sofá individual. Do lado esquerdo estava logo a porta da casa de banho. Pequenina.
Quem entrava e se virava para a direita avistava um simples mas bonito varandim. As portadas e as grades pintadas de branco, destapadas dos cortinados, deixavam entrar a agradável luz de fim do dia. Dava para um pequeno largo, com um belíssimo jardim, e uma árvore antiga que saudava todos quantos ali dormiam.
Encostada à parede do lado direito de quem conversava com o pôr-do-sol, estava uma cama de solteiro, com uma pequena prateleira por cima. Na parede oposta, a um metro da cama, estava uma televisão que fiz questão de manter desligada. A cabeceira da cama encostava-se a um enxerto de parede perpendicular, que não deixava os sonhos sair porta fora.
As paredes tinham um tom de bege cansado pelos anos, que dava vontade de abraçar todo aquele espaço.

Respirar aquele ar doce e calmo pareceu-me tão pouco.
Queria aquele canto para sempre.

Estava cansada da viagem, e, depois de ajeitar as malas por baixo da televisão, pus-me mais à vontade e desci ao rés-do-chão para ir buscar um café com leite bem quentinho, que o ar fresco das noites de Outubro começava a fazer-se sentir.

Voltei ao quarto, com o café que pousei na prateleira por cima da cama, não fechei os cortinados porque sabia bem aquela luz da rua, peguei num livro e no mp3 e deitei-me na cama, virada para o pequeno varandim.
Quando ia ligar o mp3 ouvi um murmúrio da rua. Tirei os phones dos ouvidos e tentei perceber o que se passava.

Era um som suave, mas profundo. Tinha um toque de antigo, e uma certa inexperiência do que é novo, era perfeitamente equilibrado. Sabia tão bem ouvir.

Estava um homem, quase rapaz, na varanda do cimo do prédio em frente a tocar saxofone como se a estabilidade daquela cidade de pedra dependesse dele.
Parecia que tentava fazer o mundo girar ao contrário. Queria que o tempo voltasse para trás. A melancolia daquele som tocou toda a gente.
As ruas, que antes estavam tão agitadas, calaram-se para o ouvir.

E eu fiquei sentada no chão do meu quarto, encostada às portadas abertas, enrolada num casaco, com o café nas mãos e os pés a dar para a árvore que fazia as suas folhas ao vento acompanhar o senhor do saxofone, numa melodia tão fluida, tão quente, tão refrescante, tão diferente...

Ele nunca desistiu.
E eu acabei por adormecer com a janela descoberta, aconchegada e abraçada pelo calor da música daquele homem que libertava a alma num saxofone.


Foi um dos melhores momentos da minha vida.
Senti que não me faltava nada no mundo.
Agora fecho os olhos e sinto o luar, o vento, as folhas da árvore, e o som do saxofone reluzente do homem que tornou aquela noite tão melhor para Santiago de Compostela.

domingo, 15 de junho de 2008

Tu és assim.

Procuras ser livre. Pouco consegues.
Mas não te comparas com aquilo que já foste... Se o fizesses certamente terias uma muito agradável surpresa.

Tentas ser agradável para todos.
Gostas de mostrar que és tão acessível e simpática e interessante como sabes que és.
E pensam que vives para isso.
Antes de viveres para ti, vives para os outros. Dizes pequenas mentiras que não são tuas, porque por ti nunca mentes, para deixar os outros no pé em que se quiseram apoiar. Sabes que cada um faz a sua vida e controlas o teu instinto para não meteres o bedelho no que te não diz respeito.

Há quem saiba isso de ti.
E há quem ache que fazes tudo apenas por ti e pela tua vida.
Nem sonham que mesmo o fazes pela tua vida é a pensar nos outros.
É isso que te faz sentir feliz e realizada. Ter o bem de toda a gente.

Não fazes chantagem, e poucos são os que te permites manipular.
Quando o fazes, é pelos teus ideais de Bem e pela tua vontade maior de o espalhar. No entanto sentes-te sempre só uma, humilde na tua liderança que tantos te gabam e alguns te invejam.

Gostas mesmo do que fazes e, apesar de falares com orgulho, não procuras vangloriar-te. Reconheces a tua condição humana, estúpida e mortal.
É por sentires que consegues muito do que procuras que ficas fora de ti de alegria. Queres partilhar a felicidade que sentes sem que te achem arrogante, egocentrista ou qualquer outra coisa que sabes que não és e que te parecem definições injustas, não só para ti.

...E vais falando discretamente numa pessoa que não a 1ª, na esperança que, antes do último parágrafo, alguém que verdadeiramente te conheça te reconheça nos sentimentos e vontades que descreves...

terça-feira, 3 de junho de 2008

Sabes que mais?

Nunca tive tanta vontade de apenas um beijo teu.
É verdade! Não me custa admitir isso. Não sei se algum dia te vou dizer isso, o mais provável é que me faltem as palavras à tua frente.

Era chegar perto de ti, encarar-te com um sorriso, que correspondias sem dares conta, deixar a proximidade trazer o brilho nos olhos, e, dizendo-te apenas um "Olá", ter os teus braços pelos meus ombros, e os meus braços pela tua cintura e pelas tuas costas, respirar fundo e saber que em nenhum lugar eu poderia estar melhor do que estava ali, contigo.

Mas não te conheço assim.



Ainda não.

domingo, 1 de junho de 2008

Lembro-me bem.

Estavas ao meu lado, de mãos nos bolsos, tão calmo, tão sereno...
Tentavas disfarçar a situação em que ambos nos colocámos.
Também eu o fazia...

Até que resolvi acabar com aquele teatrinho inocente.

Peguei na tua mão direita (que estava do meu lado esquerdo) e virei-me para ti.
Olhaste para os meus olhos com cara de quem tem medo, aposto que engoliste em seco. Ficaste nervoso de repente.
Pus a tua mão direita do lado esquerdo do meu pescoço. E com a minha mão direita, peguei na tua mão esquerda, que arrastei pelo ar espesso daquela noite até à minha cintura.
Tu não ofereceste qualquer resistência.

Olhei para cima, para ver o brilho dos teus olhos castanhos, e levei a minha mão direita (que tinha deixado a tua mão no meu corpo) ao teu pescoço.

Até aqui, parecias um boneco, daqueles manequins das montras. Mudei a tua posição e tu nada fizeste a não ser olhar para mim.

Mas foi quando eu me estiquei até ficar em bicos de pés, e me aproximei mais de ti que tu reagiste, e baixaste a cabeça.
Enviaste os teus lábios na direcção dos meus, que já procuravam os teus há tanto tempo...

Não sei que beijo magnífico foi aquele. Mas dura até hoje.



Ou teria durado, se eu fizesse mais do que apenas sonhar contigo.