terça-feira, 29 de abril de 2008

São nove horas da manhã...

Ela estaciona o seu jipe novo mesmo em frente ao espaço onde trabalha.

Não é um consultório, nem um spa. Talvez uma mistura.
Todos saem de lá a sentir-se melhor.

Num gesto rápido, com as mãos recém tratadas numa boa manicura, tira os óculos escuros da cara (são mesmo giros), arrastando-os para o cabelo escuro brilhante, que está tão bem apanhado.

Tira a chave da ignição, olha para o relógio (super chique), pega na sua mala (super gira), na agenda (super cheia) e no copo em que trás o seu indispensável capuccino matinal, e desce do jipe (super caro).
Sacode as pernas, numa tentativa apressada de ajeitar as calças do seu fato branco que comprou a semana passada numa daquelas lojas caras.

Tem a mala ao ombro, a agenda trancada com o braço contra o corpo, a chave do jipe numa mão, na outra tem o capuccino, tem as unhas bem pintadas num tom claro, os olhos brilhantes de quem é feliz pintados com aparência natural, os lábios hidratados pelo batôn levemente brilhante, a pele luminosa devido ao bom tratamento que leva, o cabelo recentemente arranjado, e a alegria de quem corre por gosto.

Carrega num botão da chave do jipe que o tranca e acciona o seu alarme, corre em passos pequeninos sobre os seus sapatos de salto alto fabulosos até entrar no seu espaço.
Diz "Bom dia!" à sua recepcionista com o sorriso bem-disposto de todos os dias, continua em passo acelerado até à sua secretária, pousa o capuccino que já quase acabou de beber, a agenda, a mala, guarda a chave do jipe, tira o casaco do fato branco e pendura-o com a mala num cabide atrás da porta do seu... consultório?
Todo ele está bem decorado, inspira à boa vontade e bem estar.
Liga o computador, um fiel ajudante à sua missão de todos os dias, e faz uma chamada do seu telemóvel enquanto abre a agenda para ver quem vai atender a seguir.
"Já estou aqui" Diz com uma voz confortável quando a outra pessoa atende a chamada.
"Vá, tenho que desligar, já devia estar aqui com o meu paciente. Tem um bom dia, amor."

Tem 28 anos, o seu próprio negócio em ascensão, e uma vida cheia do que é bom.

Depois de uma manhã inteira a procurar espalhar o bem, entra no jipe às 13h, vai ter com a sua mãe a uma belíssima casa, almoça por lá. Depois do almoço, uma das suas melhores e mais fiéis amigas de há tantos anos aparece por lá também, e seguem as três para as compras.
Não serão compras fúteis, não desta vez.
A mãe tem os olhos emocionados de quem quer chorar, põe a filha e a amiga da filha (que é solidária nestas coisas) a querer chorar também.
Choros, coisas de mulheres.

Ela tem 28 anos, mais um do que os artistas, tem o seu negócio em ascensão, uma vida cheia do que é bom, uma excelente família, e um espectacular círculo de amigos.

Ela tem 28 anos e casa na próxima semana com um homem que lhe dá valor.



Também ele tem uma vida cheia do que é bom.
E tem-na a ela.

4 comentários:

Gaivota disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Morce disse...

Envolvente sem dúvida.. não consegui tirar os olhos do ecrã, consegues que criemos uma imagem do que estamos a ler.. isso é muito bom!

[ O anterior fui eu que apaguei.. estava na conta da minha mãe =P ]

Balbino disse...

E tem pintas? Um beijinho à mãe! Tu não mereces, andas a ficar cada vez mais convencida! =)

Unknown disse...

É tudo o que uma mãe pode desejar para a sua filha, uma vida cheia de alegria, felicidade, armonia, com dedicação e empenho ao que faz da vida. Força!!! Pensa:"Eu posso" e vais ver que consegues! Eu vou "torcer" por ti!BEIJO