segunda-feira, 17 de março de 2008

O que falta aqui?

Hoje acordei com o vibrar do meu telemóvel. Não foi muito agradável, mas já é costume. E nem por ser costume deixa de ser irritante.
Sentei-me na cama a falar com uma voz que não reconheci de imediato. Pudera, era a voz do coração. Já não o ouvia há algum tempo, já nem sabia como lhe corria a vida.
Houve um afastamento nesta nossa relação. Sem dúvida.
Hoje falo com o meu coração só para saber como ele está. Não sei mais nada. Ele não me dá respostas, porque eu também não lhe pergunto nada.
Digo-lhe que estou com pressa e invento à pressa qualquer coisa para fazer, é o que se faz para despachar estas conversas.

Liguei a aparelhagem. Obriguei a Cher a cantar para mim. É boa música! Não me contradigam!
Fui a dançar para a casa de banho. Reparei, ainda a dançar, nas olheiras que tinha. Pensei, muito rápido: que se foda!
Pus um sorriso (continuava a dançar!), ajudei a Cher a cantar, e meti-me no banho.
Usei o chuveiro como microfone, e agi como se estivesse a dar eu própria um concerto perante milhares de pessoas (ainda bem que não estava!).
Saí do banho, de toalha enrolada ao corpo, descalça até ao quarto. Sempre a cantar e a dançar.
Enrolei outra toalha, esta no cabelo, olhei para o espelho e pensei "Marge Simpson!".
Vesti-me a dançar. Sim, é possível. E nunca parei de cantar.

Voltei à casa de banho, liguei o secador. Que merda! Quase não ouvia a música!
Tive que me despachar e não sequei totalmente o cabelo.
Fiz uma trança à francesa e fiquei no corredor a dançar.

'Cause I'm strong enough to live without you!
Strong enough! And I quit crying
Long enough! Now I'm strong enough to know you gotta go!


Oh yeah!

Preparei-me para sair. No fim acabou por não me apetecer. Dei-me conta que não tinha nem rumo, nem companhia.
Saí na mesma.
Fui sozinha pela rua fora, e, nem dois minutos depois, apercebi-me que tinha perdido o autocarro (MERDA!).
Fui ao café.
Saí mesmo a tempo de apanhar o autocarro a seguir ao que tinha perdido. Menos mal.

Fui buscar um bilhete para o Rock in Rio.
Um bilhete.
E segui sozinha para o Vasco da Gama.
Ver uma loja ou outra, sem grande moral para compras (o que é antagónico ao comportamento de uma miúda com dinheiro suficiente para comprar o que lhe apetecesse naquela altura).
Não quis comprar nada.
Não se compra!

Passei pela Portela para dar um beijo à Mariana.
Lá por ter combinado onde combinei não quer dizer nada.
Nem estava para aí virada. Não ando para aí virada. Não me quero virar para aí.
Vim embora para casa, já de noite, sozinha no autocarro.

Incrível a diferença!
Já não me sentia Cher nenhuma.
Sentia-me apenas uma parte...

"Então, onde estiveste?"
Odeio estas perguntas.

Liguei o computador.

Não me apetecia falar com ninguém... Liguei o MSN só por ligar. Ou pelo hábito.
Voltei a fazer a trança que já se desfizera à muito tempo.
Sentei-me no sofá, encostei-me para o lado esquerdo, pus os pés para cima e tapei as pernas com uma mantinha que está sempre por perto.
Fiquei a olhar para o nada.
Eu sei que à minha frente estava a televisão, que já estava ligada quando entrei na sala, mas baixei-lhe o som e nem via o que estava a dar.

Fartei-me.
Levantei-me e fui ao quarto.
Fiquei parada à porta, queria dali qualquer coisa que nem eu sabia o que era.
Mas no fundo sabia que, por mais que a procurasse no quarto, não ia estar lá.

Não está em lado nenhum.

Nem no telemóvel que não toca.
Nem no quarto que está vazio.
Nem na sala que só me vê a mim.
Nem na casa que sabe o que quero.
Muito menos em mim.

Em tão pouco tempo...
De invencível a incompleta.

Não me faz falta, não sinto a falta, mas tudo me leva a pensar no que não existe.

Ouvi uma voz muito distante, mas não lhe quis dar atenção.

Estou a dar em doida?

2 comentários:

Anónimo disse...

Já tive muitos domingos assim.Tirando a parte da Cher.E da trança à francesa.

=)

b*

Anónimo disse...

"O que me atrai nos brincos não é as mulheres terem-nos, é o momento em que os prendem na orelha, de queixo esticado e olhos vazios. A mesma expressão, aliás, ao procurarem as chaves na carteira. Parece que se ausentam. Depois voltam a estar ali ao rodarem a fechadura."

António Lobo Antunes.

b